domingo, 1 de fevereiro de 2009

Me reconstruindo a cada dia...


Hoje é domingo, dia de muito sol, calor, mais um dia de viver.

Sinto um forte impulso de conversar com vocês sobre o que chamo de "reconstrução de mim mesma"...mas desta vez tenho vontade de falar um pouco sobre a reconstrução da minha aparência física, que independe de qualquer vaidade, mas de poder me olhar no espelho e reconhecer a minha imagem, a minha identidade que eu chamo de "natural" , e não aquela que espelha as mudanças inevitáveis que ocorreram pelo tratamento.
Não que eu negue estas mudanças ou que não consiga aceitá-las ou me confrontar bem com elas.. ou que eu tenha, por isto, deixado de perceber a minha essência no meu rosto já há quase 4 anos sem a moldura dos cabelos compridos que sempre adorei; sem as sobrancelhas e os cílios, que "decoravam" a expressão do meu olhar... não é isto... eu consigo me encarar sem qualquer revolta com a vida, ou pena de mim mesma, ou qualquer coisa que me faça passar direto pelo espelho.

Depois de uma fase onde assumi a careca e andava assim pelas ruas, talvez intimamente querendo vencer meus próprios limites e desejando que as pessoas se questionassem sobre este grande medo chamado câncer (Ah! também usei lenços! ) - havia transcorrido 3 anos de tratamento e meu lado de "ser feminino" pediu que eu resgatasse, dentro do possível, a minha identidade "antiga", e optei por comprar uma peruca bem diferente (já havia usado uma tradicional por ocasião do primeiro tratamento, em 1999, e era muito desconfortável), que chamam de "prótese capilar", ótima de se usar (exceto no calor, exposta ao sol) e tão natural que saio com ela molhada, depois de "lavar" os cabelos.

E este processo de "auto-reconstrução" é diário, quando vou sair de casa. Desenhar e pintar sobrancelhas (fiquei craque no assunto!) , lápis ao redor dos olhos, e colocar os meus cabelos postiços.
Neste processo, que já faz parte da minha rotina, tantos questionamentos me vem a cabeça... voltamos ao ponto principal - os nossos valores de referência; a maneira como nos olhamos diariamente no espelho, quando simplesmente nada nos falta... cabelos, sobrancelhas, cílios, bochechas rosadas...saúde !

É incrível como nos criamos para não valorizar o que temos, mas sempre o que nos falta! Os cabelos nunca estão de acordo, a boca é grande demais, ou muito pequena, os cílios curtos, o olhar meio caído, o nariz, esse então, nem se fala! Nunca é do feitio que gostaríamos que fosse! Com algumas exceções, onde há uma acentuada desarmonia em algum aspecto físico nosso, tudo o mais são insatisfações de um ego que é alimentado pela busca da perfeição da aparência, que acabou sendo um símbolo de poder.

Hoje, quando preciso, passo a passo, refazer estes "detalhes de mim" , para reconhecer na minha imagem a Claudia de antes, penso em quanto tempo perdemos atraídos pelo que enxergamos como defeitos, e o quanto vivemos cegos para toda a beleza que há em sermos quem somos, da forma como naturalmente somos... não sei se consigo passar pra vocês em palavras o que sinto... é o sentimento de : vamos parar de buscar defeitos, rugas, assimetrias e agradecer por estar "inteiro", me entendem?

Por que somos muito mais rigorosos com a nossa aparência física, externa, do que com as nossas imperfeições internas?

É claro e natural que haja prazer em cuidar da nossa aparência, em nos sentirmos bonitos, joviais... mas quem de nós ainda não experimentou a situação onde um brilho no olhar faz o corpo inteiro reluzir, sem para isso precisarmos de brilhos artificiais, jóias, maquiagens?

Não há dúvida que a beleza flui de dentro pra fora, e pode tornar os que alguns acham feio, atraente, e a mais linda criatura que não emane este brilho, opaca, sem vida.

Talvez tenha "falado" pra vocês sobre aquilo que todos conhecemos na teoria, mas aqui são palavras de alguém que convive, no seu dia-a-dia, com a "perda" de sua aparência natural, e deseja que todos olhem mais amorosamente para si mesmos, que valorizem os seus pequenos detalhes, que procurem, se preciso, mudar o olhar sobre si próprios...
Tentem se imaginar sem cabelos... viram como o cabelo de vocês é maravilhoso? Querem dar um realce, uma mudada, ok, mas nem por isso digam "odeio o meu cabelo"!
Conseguem se imaginar sem as sobrancelhas e os cílios? Nossa! Você nunca pensou que tivesse sobrancelhas tão lindas e um olhar tão expressivo!
E sem cabelo, sem sobrancelhas e sem cílios? Viu como vocês são belos e perfeitos?

Um beijo carinhoso para todos. Amor e Luz sempre, Claudia

4 comentários:

  1. querida cláudia,
    foi uma provação que a vida lhe fez, mas soube com muita dignidade ultrapassá-la, só uma grande alma tem capacidade para vencer uma situação tão melindrosa, por tudo isso para si vai toda a minha admiração e respeito.
    E faz muito bem partilhar a sua experiência com os outros, tenha a certeza que vai ajudar muita gente com a sua coragem.

    de todo o coração desejo tudo de bom para você e faço votos para que a vida a compense de tudo.

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  2. Te admiro e respeito muito!!!!!!!!!!!!!!!!!


    Palmira

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  3. Cláudia, a gente não entende as razões, mas percebe as consequências do que se vive e posso te dizer, das razões pra tantos inconvenientes... não saberia dizer, mas que vc tem conseguido transformar o que vive em lindos exemplos pra todos nós..isto lá é muito verdade!

    gde beijo, Amor e Luz sempre e obrigada por sempre trazer suas reflexões pra nossas vidas!

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  4. Adorei a declaração... muitas pessoas deveriam ler esse texto antes de reclamar de si... Estou adorando a abordação do blog! Bjns, Uschi... mas deixa eu falar uma coisinha... com a peruca vc fica linda, mas careca eu te acho um charme só!!!!

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