terça-feira, 24 de novembro de 2009

OU MUDAMOS, OU MORREMOS - Por Leonardo Boff


Ou mudamos ou morremos



Hoje vivemos uma crise dos fundamentos
de nossa convivência pessoal, nacional e mundial.


Se olharmos a Terra como um todo, percebemos que quase
nada funciona a contento.


A Terra está doente e muito doente.


E como somos, enquanto humanos também Terra
(homem vem de humus=terra fértil),
nos sentimos todos, de certa forma, doentes.


A percepção que temos é de que não podemos continuar nesse caminho, pois nos levará a um abismo.


Fomos tão insensatos nas últimas gerações que construimos o princípio de auto-destruição.


Não é fantasia holywoodiana.

Temos condições de destruir várias vezes a biosfera e impossibilitar o projeto planetário humano.


Desta vez não haverá uma arca de Noé que salve a alguns e deixa perecer os demais.


O destino da Terra e da humanidade coincidem:
ou nos salvamos juntos ou sucumbimos juntos.


Agora viramos todos filósofos, pois, nos perguntamos entre estarrecidos e perplexos: como chegamos a isso?


Como vamos sair desse impasse global?


Que colaboração posso dar como pessoa individual?


Em primeiro lugar, há de se entender o eixo estruturador de nossas sociedades hoje mundializadas, principal responsável por esse curso perigoso.


É o tipo de economia que inventamos.
A economia é fundamental, pois, ela é responsável pela produção e reprodução de nossa vida.


O tipo de economia vigente se monta sobre a troca competitiva.
Tudo na sociedade e na economia se concentra na troca.
A troca aqui é qualificada, é competitiva.
Só o mais forte triunfa.
Os outros ou se agregam como sócios subalternos ou
desaparecem.


O resultado desta lógica da competição de todos com todos é duplo:
de um lado uma acumulação fantástica de benefícios em poucos grupos e de outro, uma exclusão fantástica da maioria das pessoas, dos grupos e das nações.


Atualmente, o grande crime da humanidade é o da exclusão social.
Por todas as partes reina fome crônica, aumento das doenças antes erradicadas, depredação dos recursos limitados da natureza e um ambiente geral de violência, de opressão e de guerra.


Mas reconheçamos: por séculos essa troca competitiva abrigava a todos, bem ou mal, sob seu teto.


Sua lógica agilizou todas as forças produtivas e criou
mil facilidades para a existência humana.


Mas hoje, as virtualidades deste
tipo de economia estão se esgotando.


A grande maioria dos países e das pessoas não cabem mais sob seu teto.


São excluidos ou sócios menores e subalternos, como é o caso do Brasil.


Agora esse tipo de economia da troca competitiva se mostra altamente destrutiva, onde quer que ela penetre e se imponha.


Ela nos pode levar ao destino dos dinossauros.
Ou mudamos ou morremos, essa é a alternativa.
Onde buscar o princípio articulador de uma outra sociabilidade, de um novo sonho para frente?


Em momentos de crise total precisamos consultar a fonte originária de tudo, a natureza.


O que ela nos ensina?


Ela nos ensina, foi o que a ciência já há um século identificou,
que a lei básica do universo, não é a competição que
divide e exclui, mas a cooperação que soma e inclui.


Todas as energias, todos os elementos, todos os seres vivos,
desde as bactérias e virus até os seres mais complexos,
são inter-retro-relacionados e, por isso, interdependentes.


Uma teia de conexões nos envolve por todos os lados,
fazendo-nos seres cooperativos e solidários.


Quer queiramos ou não, pois essa é a lei do universo.


Por causa desta teia chegamos até aqui e poderemos
ter futuro.
Aqui se encontra a saida para umo novo sonho civilizatório e para um futuro para as nossas sociedades: fazermos desta lei da natureza, conscientemente, um projeto pessoal e coletivo, sermos seres cooperativos.


Ao invés de troca competitiva onde só um ganha devemos fortalecer a troca complementar e cooperativa, onde todos ganham.


Importa assumir, com absoluta seriedade, o princípio do prêmio de economia John Nesh, cuja mente brilhante foi celebrada por um não menos brilhante filme: o princípio ganha-ganha, onde
todos saem beneficiados sem haver perdedores.


Para conviver humanamente inventamos a economia, a política, a cultura, a ética e a religião.


Mas nos últimos séculos o fizemos sob a inspiração da
competição que gera o individualismo.


Esse tempo acabou. Agora temos que inaugurar a inspiração da cooperação que gera a comunidade e a participação de todos em tudo o que interessa a todos.


Tais teses e pensamentos se encontram detalhados nesse brilhante livro de Maurício Abdalla, O princípio da cooperação. Em busca de uma nova racionalidade.


Se não fizermos essa conversão, preparemo-nos para o pior.


Urge começar com as revoluções moleculares.


Começemos por nós mesmos, sendo seres cooperativos, solidários, compassivos, simplesmente humanos. Com isso
definimos a direção certa. Nela há esperança e vida para nós e para a Terra.


Por Leonardo Boff


* Fonte:  recebi este texto maravilhoso por e-mail de minha irmã do coração Carmen Monteiro (do lindo blog http://www.lentasrapidasluzes.blogspot.com/ ), a quem agradeço muito por compartilhar.

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